Huberto Rohden

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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça"

Esta bem-aventurança visa sobre tudo os insatisfeitos, os descontentes consigo mesmos,os que sofrem o tormento do Infinito, a nostalgia do Eterno, os que vivem ou agonizam numa estranha inquietude metafísica, os que crêem mais no muito que ignoram do que no pouco que sabem.


Antes de tudo. convém esclarecer o que aqui  se entende pela  palavra "justiça". Esta palavra, toda vez que ocorre nas sagradas Escrituras, significa a relação ou atitude justa e reta que o homem assume em face de Deus. Não se refere à justiça no sentido jurídico, do plano horizontal, como é usada na vida social de cada dia. Justiça é, pois, a compreensão intuitiva de Deus(a mística) e o seu natural transbordamento na vida cotidiana(a ética).


Jesus proclama felizes os que têm fome e sede dessa experiência íntima, os que estão insatisfeitos com o pouco ou muito que alcançaram no caminho árduo da sua cristificação. Sabem que estrada imensa lhes resta ainda a percorrer; mas sabem que é glorioso continuarem a andar rumo ao seu grande destino.

Para que o homem sinta em si essa espécie de nostalgia metafísica, deve ele ter ultrapassado certas fronteiras de vivência comum. O homem que ainda vive  totalmente engolfado nos afazeres da lufa-lufa comum dos profanos, caçadores de matéria morta e carne viva, esse não está maduro  para ter fome e sede de um mundo invisível. Antes de sentir essa fome, terá de experimentar o fastio de que agora tem fome."Quem bebe desta água(das coisas materiais) torna a ter sede(das mesmas); mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede(das coisas materiais)"porque esta água se lhe tornará numa fonte que jorra água para a vida eterna.

O divino Mestre  proclama felizes os que sofrem essa fome e sede da experiência de "Deus",porque eles serão "saciados". É certo que, um dia, em outros mundos, essa nostalgia será satisfeita, porque a natureza não engana seus filhos,impelindo-os a um alvo fictício.

Ainda que o infinito em demanda do Infinito tenha sempre diante de si um itinerário ilimitado, e jamais chegará a um ponto onde lhe seja vedado progredir ulteriormente- porque não há "luzes vermelhas" nos caminhos de Deus-é certo que o humano viajor chegará a um ponto em que a sua compreensão e amor de Deus o tornará profundamente feliz.

Do "Sermão da Montanha",páginas 37 a 39(2003)-Editora Martin Claret-Coleção a Obra-Prima de Cada Autor.

domingo, 5 de dezembro de 2010

"Bem-aventurado os pacificadores"

Pacificador é, pois, aquele que faz a paz, é um "fazedor de paz", um homem que possui em si a força creadora de estabelecer ou restabelecer um estado ou uma atitude permanente de paz no meio de qualquer campo de batalha.


Quem é, pois, verdadeiro pacificador?


Não é, em primeiro lugar, aquele que restabelece paz entre as pessoas ou grupos litigantes, mas sim aquele que estabelece e estabiliza a paz dentro de si mesmo. Aliás, ninguém pode ser verdadeiro pacificador de outros, se não for pacificador de si mesmo. Só um autopacificador é que pode ser um alo-pacificador.


Todos os conflitos externos são filhos de algum conflito interno não devidamente pacificado. Por isto, é absurdo querer abolir as guerras ou revoluções de fora, as discórdias domésticas no lar ou no campo de batalha, enquanto o homem não abolir primeiro o conflito dentro da sua própria pessoa.


O grande tratado de paz tem de ser assinado no foro interno do Eu individual antes de poder ser ratificado no foro externo das relações sociais. Nunca haverá Nações Unidas, nunca haverá sociedade ou família unida enquanto não houver indivíduo unido.


A verdadeira paz é um carisma divino, uma graça, uma dádiva de Deus, que é dada a todo o homem que se torna receptivo para receber esse tesouro. A verdadeira paz não pode ser manufaturada pelo ego humano, porque esse ego é o autor de todas as discórdias que existem sobre a face da Terra. Só quando esse pequeno ego humano se integra no grande Eu divino é que pode surgir uma paz duradoura.

Quem tem firme consciência de possuir a plenitude do ser pode facilmente renunciar à abundância do ter. Quanto maior é o ser de uma pessoa, menor é o seu desejo de ter; e, como toda a falta de paz nasce do desejo de ter, e ter cada vez mais, é lógico que o homem que reduziu ao mínimo o seu desejo de ter, não tem motivo para perder a paz.

A paz é, pois, um atributo do ser, é algo qualitativo, algo que tem afinidade com o EU SOU do homem. O homem que tem plena consciência do seu divino EU SOU não tem motivo para brigar  ou declarar guerra a alguém por causa dos teres , que desunem os profanos.

Por isto, em vez de brigar por causa da capa que alguém lhe roubou, esse milionário do ser oferece tranqüilamente ao ladrão  também a túnica, porque nem a capa e nem a túnica fazem parte do seu ser. E, destarte, ele não sofre perda alguma real: perda dois zeros em vez de um zero, mas a perda de dois zeros(capa e túnica) não é perda maior do que perder um zero(capa).

O homem que estabeleceu a paz de Deus em sua alma é um poderoso fator  para restabelecer  a paz em outros indivíduos e através destes, na sociedade. Os pacificadores serão chamados "filhos de Deus". Deus é paz eterna, infinita, absoluta; não a paz da inércia, fraqueza, vacuidade- mas a paz da dinâmica, da força e da plenitude. Nele não há discórdia, luta, conflito; e quanto mais o homem se aproxima de Deus, pela compreensão e pelo amor, tanto mais a sua vida se assemelha à vida divina pela paz e serenidade. O homem que fez definitivo tratado de paz consigo mesmo, irradia uma atmosfera de calma e felicidade que contagia a todos que forem suficientemente suscetíveis para perceber essas auras pacificantes.

O Sermão da Montanha,páginas 40 a 44(2003)-Editora Martin Claret-Coleção a Obra-Prima de Cada Autor.